*Opinião de Patrícia Kogut
Na série “MacGyver”, o personagem de Richard Dean Anderson era uma espécie de super-herói sem poder. Ele tinha, porém, conhecimento científico e uma habilidade manual incrível. Criativo, conseguia transformar, digamos, um clipe numa chave de fenda. Possuía um cinto de utilidades limitado — usava muito um canivete e fita adesiva — no entanto desarmou mísseis com tênis, esfarelou um ovo cozido num radiador, selou um vazamento químico com chocolate, enfim... Apesar do absurdo da coisa, MacGyver hipnotizava as plateias, porque, desde o início, foi apresentado assim: um mago das pequenas coisas. O público estava pronto para embarcar em suas incríveis aventuras. Dia desses, em “Passione”, Fred desligou o sistema de luz da Gouveia, desarmou as câmeras de segurança temporariamente e sem deixar rastros, sabotou um moderno elevador com uma chavezinha de fenda e matou Myrna.
Mas como acreditar que Fred, apresentado nos primeiros capítulos como um tipo inculto que tropeçava no português, tenha se tornado um MacGyver de uma hora para outra? Como acreditar que ele, um 171 de subúrbio, tenha planejado um golpe envolvendo bancos suíços? Como acreditar que ele, que, pelo relato da mãe, teve uma educação péssima, fale agora inglês fluente? Não se trata de defender que novelas têm de ser realistas — pelo contrário, elas podem ser terreno para o delírio. Tudo é ficção. Mas a credibilidade não é um conceito necessariamente atado ao realismo. Os espectadores do mundo todo que viam “Lost”, por exemplo, seriado ambientado numa realidade paralela (para dizer o mínimo), aderiam ao suspense proposto: uma história bem construída conquista uma aura de verossimilhança. Não dá para, do nada, fazer de um Fred um MacGyver. Não dá para acreditar numa Clara que era uma vilã desalmada, virou um anjo de candura e, agora voltou a ser vilã. Ela poderia ter se passado por anjinho para o bobão do Totó, com a cumplicidade do público. Mas o que se fez foi enganar a plateia e, assim, provocar descrédito e irritação. Gerson tinha um segredo que despertou muita curiosidade. Revelado, ele era banal. A ex-doce Melina, de uma hora para a outra, virou um monstro, quase psicopata. E por aí vai.
Silvio de Abreu, um mestre das novelas de suspense, vide “A próxima vítima”, só para citar uma, desta vez não tem conseguido convencer. Personagens e tramas se corrompem o tempo todo. O público se sente traído.
Num enredo de mistério, é preciso fazer do espectador um potencial detetive. Mas com tantos personagens e tramas sem coluna vertebral, “Passione” virou um jogo sem regras. É diferente do que João Emanuel Carneiro, por exemplo, fez em “A favorita”, com tipos, nos primeiros meses, explicitamente ambíguos. A brincadeira, no início, era descobrir quem era a boa e quem era a má (e o público sabia disso). Mas assim que os papéis ficaram claros, o que se viu foi um thriller clássico. “Passione” está tão desamarrada que a uma atriz com o supertalento de uma Fernanda Montenegro sobrou apenas passar capítulos e capítulos sendo surpreendida pelas mudanças de personalidade ocorridas com pessoas que Bete Gouveia, sua personagem, conhecia da vida inteira. Algo parecido vive o público. E isso talvez explique a audiência que nunca deslanchou.
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*E eu assino em baixo!O Sílvio de Abrêu é um mestre em tramas policiais, mas Passione além de todas essas falhas apresentadas acima, foi uma história mal concebida, que tornou-se desinteressante e cansativa.Parece ter sido inspirada num dia de mal humor e alto stress do autor.A grande verdade é que Passione não passa de um grande 'fracassione'.
Veja mais em:
http://hipersessao.blogspot.com/2010/11/passione-melhor-novela-de-silvio-de.html
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