sábado, 25 de dezembro de 2010

O bebê Olavinho de Passione

Olavinho passa o dia mimado pelo avô, veste roupas caras e se diverte com brinquedos importados em uma luxuosa casa com piscina, no Jardim América, bairro nobre de São Paulo.


À noite, o bebê cai na real e retorna ao apartamento de um quarto, alugado, na favela da Rocinha, no Rio.


O loirinho de olhos azuis que encanta o público da novela "Passione", filho do casal interpretado por Gabriela Duarte e Bruno Gagliasso, é Carlos Daniel Barbosa Gomes da Silva, 10 meses.


Em vez da mãe perua e do pai bígamo da ficção, é filho da dona de casa Maria Cícera, 25, que pinta panos de prato para ajudar nas despesas, e do pedreiro José Carlos, 44, que faz bico como condutor de mototáxi na Rocinha.


Pouco depois de seu nascimento, uma prima do pai o indicou a uma agência de modelos que procurava bebês para o papel.


Por telefone, a produtora da agência pediu que os pais colocassem fotos de Carlos Daniel no Orkut. José Carlos foi a uma lan house e descarregou as imagens no site de relacionamentos. "Foi bom porque pude mostrar o bebê para a minha família, lá na Paraíba", conta à Folha.


Com três meses de vida e as primeiras risadinhas no currículo, Carlos Daniel foi parar em um núcleo de protagonistas da novela das 21h.


Assim como ele, qualquer bebê que apareça em novelas da Globo atualmente é recrutado em agências de modelos infantis e figuração.


A emissora desistiu de contratar diretamente desde que, no início da década, abriu vaga de bebê em uma novelinha da Angélica. Milhares de candidatos baixaram na porta da emissora.


Diferentemente das crianças maiores, que devem mostrar alguma aptidão para a TV, os bebês são escolhidos de acordo com seu tipo físico. Não há testes. Saem em vantagem os menos grudados aos pais, que não choram no colo de outras pessoas.


Risonho, de pele clara, cabelos loiros e olhos azuis, Carlos Daniel foi considerado apto à vaga em "Passione". Entrou na novela em uma cena na maternidade, com merchandising do paulistano São Luiz, chamado de "hospital de gente fina" por Clô (Irene Ravache), mulher do avô do bebê (Francisco Cuoco). Na vida real, nasceu no Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio.


No começo, sua atuação era mais fácil. Basicamente, tinha de ficar no colo. Com o passar do tempo, começou a fazer gracinhas, como dar risada e trocar olhares azuis com Gagliasso.


Suas cenas aumentaram. Quando tem de gravar, um carro da Globo vai buscá-lo em casa. O bebê segue com a mãe ao Projac.


Em geral, chegam aos estúdios lá pelas 11h e saem em torno das 20h. Recebem por dia R$ 150, repassados pela agência. No mês passado, foram dois dias de gravação, ou seja, R$ 300, menos do que o aluguel do apartamento, de R$ 350. "É muito pouco, mas ajuda. Ele só toma sopa Nestlé", afirma o pai.


O bebê Carlos Daniel, que interpreta o Olavinho de "Passione", brinca no berço de casa, com a Rocinha ao fundo


VIDA DE ASTRO


Produtor de elenco infantil há mais de 20 anos e autor do livro "Mamãe, Quero Ser Modelo", Carlos Andrade diz que os cachês das TVs para bebês aumentam conforme o número de trabalhos no currículo. A agência fica, em média, com 20%. Se um contrato de longo prazo for assinado, os pais recebem vale-alimentação e transporte.


Segundo Andrade, muitos pais de baixa renda procuram esse trabalho a fim de obter um reforço no orçamento. Pessoas com maior poder aquisitivo acabam desistindo de ter os filhos na TV, porque isso exige dedicação dos pais, que têm de passar o dia em filas de testes ou em gravações --o que pode não compensar para aqueles que ganham melhor.


Uma pessoa responsável, normalmente a mãe, tem de acompanhar o bebê. Durante as gravações, permanece atrás das câmeras para tranquilizá-lo. Cícera, por exemplo, ainda dá de mamar no peito para Carlos Daniel.


"Mas também há muita gente de classe média e até alta. Não é só o interesse financeiro que move os pais, mas a vaidade", diz Andrade.


José Carlos que o diga. Ele fica todo pimpão quando Carlos Daniel é reconhecido na rua. "Meu filho é show de bola!", diz. Isso sem falar da possibilidade de conhecer o Projac. "Quando eu ia me imaginar conversando com o Francisco Cuoco?! Parece coisa de outro mundo."

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