segunda-feira, 24 de maio de 2010

Entrevista de Eduardo Nassife, autor do livro "40 Anos de Glória" a Aguinaldo Silva




Parece que foi ontem. Mas Glória Pires, que praticamente nasceu na televisão, já tem 40 anos de carreira. Para festejar a data, Eduardo Nassife e Fábio Fabrício Fabretti escreveram o livro Quarenta Anos de Glória, que já está nas livrarias e que, através de várias entrevistas feitas com Glória e muito material iconográfico, conta tudo sobre esta que é, a maior de todas as atrizes nascidas e criadas na televisão brasileira. Alguém duvida? Então veja o vídeo acima, tirado de “Vale Tudo”, novela que tive o privilégio de escrever junto com Gilberto Braga e Leonor Bassères. Eduardo Nassife, um dos escolhidos da master class 1 para escrever comigo a ex-Marido de Aluguel, novela da qual Glória Pires será a protagonista, nos fala nessa entrevista sobre o making off do livro.

1. Quarenta Anos de Gloria: o livro está lindo! Quando (e onde) será o lançamento?

R. O lançamento será na primeira semana de agosto, na Livraria Saraiva, do Shopping Rio Sul, aqui no Rio de Janeiro. Ah, e quanto ao livro, sem falsa modéstia, eu assino embaixo: está lindo mesmo! À altura da carreira e da pessoa Gloria Pires.

2. Gloria Pires estará presente?
R. Estará, sim. O livro já está sendo vendido, mas o lançamento foi adiado exatamente para esperá-la chegar de sua mudança de Paris para o Rio, no final de julho.

3. Pode-se dizer que você é o fã número 1 da atriz?

R. Bom, se sou o número 1 eu não sei, mas certamente, fui o mais privilegiado por ter me tornado amigo dela, por desfrutar de sua intimidade, por participar ativamente de sua vida. Mas acho que isso engloba outros fatores também, e o principal deles, creio, seja a confiança, que, no nosso caso, é recíproca. Gloria é uma pessoa excepcional, um ser humano ímpar, pelo qual tenho muito orgulho de ser seu fã e amigo.

4. Como Gloria Pires reagiu quando você anunciou que ia escrever um livro sobre ela?

R. Ela ficou muito emocionada e se pôs à disposição o tempo todo para me ajudar. Em nenhum momento, eu senti a Glorinha distante do projeto, muito pelo contrário. Lembro da primeira entrevista, em 2001, assim que falei do projeto do livro, e ela já divulgou. Comprei a revista e fiquei muito emocionado. Quando temos o nosso trabalho reconhecido, a sensação é de que nada está sendo em vão. E o fato de Gloria não ter ataque de estrelismos, como muitos, facilitou o andamento do trabalho. No fim de tantos anos desse projeto, o saldo foi positivo. Tivemos divergências, sim, mas nada que não fosse superado, e posso afirmar: foi tudo um grande barato, nós nos divertimos muito!

5. Vocês conversaram quanto tempo? Foi tudo gravado? Quanto desse material você aproveitou no livro?

R. Em 2001, eu apresentei o projeto do livro a ela, pois em 2002 ela faria 30 anos de carreira. Ela topou na hora, e, dias depois, já estávamos agendando a primeira de uma série de entrevistas que fiz com ela. Porém, no meio disso, tive um problema pessoal grave: meu pai sofreu um sério acidente, que o impediu de andar por meses, fez fisioterapia, enfim, uma página que quero esquecer. E eu me vi diante de uma escolha difícil, porém, necessária: ou eu me dedicava ao livro ou cuidava do meu pai. Não hesitei em engavetar o projeto e cuidar do homem a quem devo tudo. Engavetei, mas sempre certo de que um dia voltaria. Não sabia quando, nem por onde recomeçar, mas estava certo de que não seria fraco o bastante para abandoná-lo. Eu já estava com um bom material pronto: horas de entrevistas com a Glorinha, entrevistas com amigos e familiares, as pesquisas que fiz na Biblioteca Nacional, as pesquisas que fiz no vasto material audiovisual que tenho, as decupagens dessas entrevistas, enfim, eu aproveitei quase tudo no livro.

6. Quanto tempo você demorou para escrever o livro?

R. A escrever mesmo, levei dois anos. Eu retomei o projeto em 2008 e convidei o escritor Fábio Fabrício Fabretti para ser co-autor. O Fábio, além de grande amigo é um escritor talentosíssimo, já havia lançado livros no Brasil e no exterior, colaborou com a biografia de Caio Fernando Abreu; era o cara certo para me ajudar nessa empreitada, pois tinha mais trabalho pela frente. Eu reli o livro e quis mudar tudo. Então, eu e Fábio reescrevemos tudo, contando com as atualizações que teríamos de fazer. E convidamos você, Aguinaldo, a escrever o prefácio e o Gilberto Braga a escrever a orelha, por um motivo principal: vocês dois escreveram a personagem que ela mais gostou de fazer em telenovelas, que foi a Maria de Fátima, de “Vale Tudo”. Era uma dupla homenagem: a Gloria e a essa dupla de autores maravilhosos, que juntos ou isolados, fizeram com que a televisão deixasse de ser vista apenas como um eletrodoméstico.

7. Quais são suas expectativas em relação a ele?

R. Ah, são as melhores possíveis. É um livro bacana, destinado a todos que se interessam por leitura, mas principalmente por quem se interessa pela história da teledramaturgia nacional, uma vez que Gloria, apesar da pouca idade, é uma lenda viva. Começou criança, superou o trauma de ter sido rejeitada porque o Daniel Filho não a considerou suficientemente bonita para uma personagem, e 25 anos depois, ela estava pisando no tapete vermelho do Chandler Pavillion, em Los Angeles, representando o Brasil na maior festa mundial do cinema, o Oscar, pelo filme “O Quatrilho”. Então, ratifico que a idade, no caso dela, é o que menos importa: a idade é relativamente pequena ainda, mas sua bagagem e conteúdo justificam, sim, um livro.

8. Você revelou-se um grande biógrafo, um gênero literário pouco cultivado no Brasil. Isso significa que outros livros desse tipo virão?

R. Eu tenho um projeto de mais uma biografia, sim, de uma pessoa bem polêmica, inclusive, mas ainda é cedo para falar. Se outros livros virão? Sim, não somente biografias, mas eu adoro escrever. Não me vejo limitado a escrever novelas e cinema somente. Eu não me prendo à escrita somente por dinheiro ou porque quero me hospedar nos hotéis mais caros do mundo. Isso é superficial demais, além de menosprezar o trabalho do escritor. Um profissional que tem esse argumento deveria se questionar sobre seus valores. Eu quero é escrever: livros, novelas, minisséries e filmes. Nosso país, por uma série de motivos que não nos cabe agora, é deficiente de cultura. E isso se agravou muito nos últimos oito anos. Espero que tenhamos discernimento para mudarmos isso nessas eleições. Esse governo faz o Brasil se desenvolver com 510 anos de atraso.

9. Você foi escolhido por mim para colaborar com a ex-Marido de Aluguel, novela que, é quase certo, contará com Gloria Pires como protagonista. Como você se sente diante da expectativa de escrever para a sua “deusa”?

R. Confesso: eu estou muito nervoso. Por várias razões: escrever com você, um autor de que sempre gostei e acompanhei; escrever para um elenco primoroso como Lília Cabral, Eduardo Moscovis, Letícia Spiller e, no caso, a Glorinha, deixariam qualquer um apreensivo. Mas, por outro lado, por tantos anos de amizade com Gloria (lá se vão doze anos!), sei que ela me deixará bem tranqüilo, porque é da natureza dela ter essa generosidade, assim como é da sua também, Aguinaldo. A minha expectativa é que, por todo esse coletivo aqui colocado, a novela será um sucesso, não tenho dúvidas! Temos uma sinopse maravilhosa, que nos remete ao bom folhetim, temos uma trama ágil, com fôlego para que as pessoas se prendam à novela não pelo comodismo com que muitas tramas são assistidas atualmente, mas sim, sem querer ser pretensioso, por vontade de assistirem mesmo! Então, por isso tudo, eu me sinto privilegiado por escrever com Aguinaldo Silva e para Gloria Pires. Traço um paralelo com o cometa Halley: uma oportunidade como essa só aparece de 76 em 76 anos...

10. Até onde pude perceber em matéria de telenovelas você é uma verdadeira enciclopédia. Esse é outro gênero raro: o pesquisador e expert em telenovelas. De onde saiu esta sua “especialização”?

R. Eu sempre gostei de novelas. Cresci acompanhando tudo na TV. E isso vem do meu pai, que também é um amante de novelas, sabe tudo no assunto. Cresci diante da TV. Amo o cinema também, mas não me sinto diminuído em nenhum momento quando digo que minha formação vem mesmo das novelas de Aguinaldo Silva, Gilberto Braga, Ivani Ribeiro, Gloria Perez, Walther Negrão, Sílvio de Abreu, entre outros. Acho uma imbecilidade esse pseudo-intelectualismo que se instaurou sob a máxima de “crítica especializada”, que eleva a telenovela, que é o produto mais assistido no país, à alcunha de algo menor. Isso é típico de gente frustrada, que não deu certo, e aí vão ser críticos de TV. E o que é pior: não deram certo porque não entendem do assunto; conseqüentemente, isso se reflete nas coisas infundadas que muitos desses “críticos” escrevem.

11. Dentre as atrizes surgidas atualmente, existe alguma sobre a qual você arriscaria dizer que pode vir a ser uma “futura Gloria Pires”?

R. Tem muita atriz jovem e talentosa. Mas, em minha opinião, a melhor revelação que já pude ver foi a Klara Castanho, com quem pretendo trabalhar muito. Ela é talentosíssima, passa muita verdade, sabe dizer o texto sem ser primária. Costumo brincar que, se ela resolvesse tirar CNPJ e abrir um curso de interpretação, eu indicaria muita gente a se inscrever para tê-la como professora. Mas sobre o futuro, arrisco dizer que Klara Castanho pode, sim, ser uma nova Gloria Pires. Talento ela já tem, resta-nos saber se lhe darão as oportunidades que ela merece, pois essa menina vai longe!

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