A ocupação policial do conjunto de favelas da Penha e do Complexo do Alemão, que aconteceu em novembro do ano passado, teve um saldo positivo para Ana Paula Araújo, de 38 anos. A apresentadora e editora-executiva do "RJTV - 1ª Edição" viu a prisão de Zeu -considerado um dos responsáveis pela morte do colega Tim Lopes, em 2002- e ainda conseguiu chegar até a bancada do "Jornal Nacional", substituindo a jornalista Fátima Bernardes uma vez por mês. "Acho que essa cobertura foi um divisor de águas na minha vida. Houve uma grande repercussão e, em vários momentos da transmissão, a gente entrava em rede nacional", lembra Ana Paula, que ficou seis horas direto no ar nas televisões cariocas.
O feito rendeu piadas no Twitter. "Libertem a Ana" e "Ana Paula é campeã mundial em prender xixi" foram algumas das frases bem-humoradas que circularam pelo microblog. A jornalista levou três dias para conseguir ver sua filha Melissa, de 5 anos, acordada. "Saía de casa e ela estava dormindo. Como voltava tarde do trabalho, a encontrava dormindo novamente", conta ela, que nasceu no Rio, mas foi ainda bebê para Minas Gerais. Ana Paula decidiu cedo que seguiria a carreira jornalística. Ela entrou na faculdade aos 17 anos e, aos 18 se mudou para o Rio para concluir o curso de Comunicação Social e buscar novas oportunidades de emprego. Se formou na Universidade Federal Fluminense aos 20 anos e, antes da Globo, passou por uma rádio em Juiz de Fora, pela CBN e pela extinta TV Manchete. A seguir, em uma entrevista exclusiva, Ana Paula fala sobre sua vida e o que mudou em sua carreira após a cobertura da invasão policial que resultou na pacificação das comunidades.
UOL - Quem mora no Rio de Janeiro, acompanhou que você ficou seis horas direto no ar cobrindo a ocupação policial do conjunto de favelas da Penha e do Complexo do Alemão, em novembro do ano passado. Durante todo esse tempo no ar, como você fez para ir ao banheiro e se alimentar?
Ana Paula Araújo - Para ser sincera, no primeiro dia da cobertura eu nem tive vontade de ir ao banheiro mesmo. Eu também estava chocada com tudo o que estava acontecendo e nem senti fome. Me alimentei com suco de laranja e Toddynho. No primeiro dia, cheguei na emissora às 5h da manhã e só saí de lá às 8h da noite. Tomei banho antes de ir para o trabalho e na hora em que cheguei em casa, à noite.
UOL - Você ficou visivelmente emocionada quando a polícia prendeu o traficante Zeu, considerado um dos responsáveis pela morte do jornalista Tim Lopes, em 2002. Foi o momento mais difícil da transmissão?
Ana Paula Araújo - Sim. Gostava muito do Tim. Ele era um cara boa praça, que estava sempre de alto astral. Lembro que ele organizou um sambão na quadra da Mangueira para comemorar o aniversário de 50 anos. Na hora em que o Zeu foi preso, eu lembrei de tudo isso e me deu vontade de chorar.
UOL - A cobertura da ocupação policial te deu projeção nacional. Você acha que sua atuação foi importante para ser alçada ao Jornal Nacional?
Ana Paula Araújo - Com certeza. Foi um trabalho gratificante.
UOL - Sua estreia no "Jornal Nacional" aconteceu no dia 8 de janeiro. Você ficou nervosa?
Ana Paula Araújo - Não fiquei nervosa. Fiquei emocionada. O "Jornal Nacional" funciona diferente do "RJTV". No "JN" a gente tem um teleprompter e lê a notícia. No "RJ" isso não acontece. É ao vivo e sem texto. Antes de ir ao ar, a gente faz uma reunião de pauta e faz uma espécie de ensaio do jornal antes de ele ir ao ar.
UOL - Substituir a Fátima Bernardes uma vez por mês no "Jornal Nacional" tem um peso?
Ana Paula Araújo - Existem muitas pessoas sensacionais no jornalismo e a Fátima Bernardes é uma delas. Ela tem um carisma incrível. Foi uma emoção enorme substituí-la. Conversei com ela antes de estrear e a Fátima me deu a maior força. Ela é uma pessoa muito generosa.
Ana Paula Araújo, jornalistaUOL - Você disse que existem muitas pessoas sensacionais no jornalismo. Quem mais está incluído na sua lista além da Fátima?
Ana Paula Araújo - O Pedro Bial, que fez uma carreira brilhante e continua ótimo como apresentador do "Big Brother Brasil".
UOL - Que boa notícia você gostaria de dar?
Ana Paula Araújo - Gostaria de anunciar que acabou a violência no Rio.
UOL- Lembra de um momento inesquecível pelo qual tenha passado em alguma cobertura?
Ana Paula Araújo - Cobri o desabamento do Morro do Bumba, em Niterói, no ano passado. Tudo lá era muito difícil. As pessoas estavam desesperadas, o resgate dos corpos era doloroso para as famílias e as condições de trabalho eram complicadas porque a gente não tinha onde comer ou beber água. No terceiro dia de cobertura, chegou uma senhora com um filho que queria me conhecer. Nessa hora, não segurei a emoção. Chorei muito.
UOL- Já aconteceu alguma situação inusitada nesses 20 anos de jornalismo?
Ana Paula Araújo - Sim. Uma delas foi no ano passado, quando houve aquela enchente no Rio de Janeiro. Eu moro em São Conrado e estava saindo do prédio para ir para a emissora quando vi que a rua estava completamente alagada. Coloquei a primeira marcha e fui saindo do prédio quando um carro passou correndo e fez aquela onda. Meu carro parou. A minha sorte é que tinha uma obra por perto e os funcionários empurraram meu carro até o posto de gasolina. Mas eu ainda precisava chegar no Jardim Botânico e o carro não ligava. Foi quando passou um carro da polícia e eu dei um grito, pedindo ajuda. Um dos policiais que estavam na viatura me viu e disse: "entra aí, Ana Paula". Eles me levaram até a Lagoa e de lá, consegui falar com a TV. Eles mandaram um carro alto para me buscar.
UOL - A televisão é uma grande vitrine. As pessoas te abordam nas ruas?
Ana Paula Araújo - As pessoas me param para falar do meu trabalho. Tem gente até que sugere pautas. Para mim, é maravilhoso receber o carinho das pessoas.
UOL - Qual foi o momento mais importante da sua vida?
Ana Paula Araújo - O nascimento da minha filha, Melissa, foi o que mudou a minha vida. Nunca tive sonhos de ter filhos. Não era o meu sonho dourado. Quando ela chegou, tudo mudou. Sinto um amor incondicional agora.
UOL - O que você faz quando está de folga?
Ana Paula Araújo - Sempre aproveito para estar com a minha filha. Viajo com ela. Já fomos para Búzios, Juiz de Fora, onde tenho família, Nova York, Flórida...
UOL - Sua filha te assiste na televisão?
Ana Paula Araújo - Ela me assiste muito pouco. Outro dia, ela falou que queria ser jornalista. Senti que ela tem um certo orgulho da mãe [risos].
UOL - O que você vê na televisão?
Ana Paula Araújo - Vejo todos os jornais. E a novela das nove também. Gosto muito do "Jornal das Dez", da Globo News. Além disso, assisto aos desenhos do [canal pago] Discovey Kids com a minha filha e vejo os seriados da TV fechada. O meu preferido é o "30 Rock".
UOL - Você é casada com Christiano Londres, um dos sócios da rede de restaurantes Outback. Como faz para manter a forma?
Ana Paula Araújo - Indo ao restaurante japonês [risos]. Procuro me alimentar bem, mas sem paranoias. Minha perdição é coxinha de galinha e "fast food". Agora estou malhando, depois de muito tempo parada. O Manoel [Lago, personal] reclama muito porque uso qualquer desculpinha para não malhar. Na época em que estava cobrindo a Guerra do Tráfico, surgiu uma história de que eu iria posar para a "Playboy". Manoel me ligou e disse que era melhor eu não aceitar [risos].
UOL - Mas você aceitaria um convite da "Playboy"?
Ana Paula Araújo - Não! Não tem nada a ver com a minha profissão.
UOL - O que ainda falta para que você se sinta realizada profissionalmente?
Ana Paula Araújo - Sou muito feliz com o que faço hoje. Claro que a gente sempre tem novos desafios. Mas sou uma pessoa muito feliz com o que faço. Dou muito valor às coisas que eu tenho.
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