quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Datena fala sobre saída da Record e da volta a BAND


José Luiz Datena não tem papas na língua. Exatamente por isso, segundo o comunicador, a Record o obrigou a ficar sem dar entrevistas durante um semestre inteiro. Este, aliás, foi um dos motivos da saída dele da emissora. Em seu contrato, havia uma cláusula que previa uma multa de cerca de R$ 20 milhões caso ele fosse censurado. "Eu não aguento quando não me deixam falar. Fiquei impedido de falar com a imprensa durante seis meses. Como pode isso? Ficava três horas falando no ar e não posso emitir minhas opiniões na imprensa? Sou um formador de opinião! Se eu ganhar da Record na Justiça vou doar o dinheiro da multa para uma instituição de caridade. Não quero um centavo sequer", disparou o apresentador do "Brasil Urgente", na Band, durante entrevista exclusiva ao portal UOL.

Datena diz que perdeu dinheiro ao sair da Record. "Voltei para a Band ganhando R$ 350 mil a menos por mês. Tenho 54 anos e passei por um momento delicado quando tive que retirar um tumor no pâncreas. Quando a gente toma um susto desses, começa a repensar muitas coisas. Hoje eu estou livre de uma série de detalhes que me aborreciam. Eu amo a Band. De verdade. Tenho o maior respeito e amizade pelo Johnny Saad [presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicação], que uma vez me pegou pela mão e me levou até o hospital porque eu sou diabético e não estava me cuidando", lembrou.

Depois de passar por dias turbulentos -desde a transição da Record para a Band- Datena agora vive um momento feliz. "Pretendo me aposentar aqui. Até porque, mudar de emissora é muito desgastante. Me torrou a paciência. Fiquei noites sem dormir. Esse desgaste na mudança não me permite sequer pensar em sair daqui", afirmou.

Na entrevista a seguir, Datena fala abertamente sobre sua saída da Record e conta o que aconteceu nos bastidores da emissora.
UOL - Como você foi recebido em sua volta à Band?
Datena -
Foi o maior barato. Como foi uma saída muito rápida, não mudou praticamente nada. Parece que eu fiquei de férias um tempo (risos). Todos me receberam muito bem. Inclusive o Luciano Faccioli, que comandou o programa enquanto eu estava na Record. Quero dizer que nunca tive problemas com o Faccioli, que veio me cumprimentar, sem qualquer tipo de mágoa ou descontentamento.
UOL - Mas você já declarou que existem pessoas na Band que te incomodam...
Datena -
Agora não incomodam mais. E elas não foram demitidas, continuam trabalhando aqui. Só que eu resolvi cuidar da minha vida e ignorar problemas de relacionamento. É impossível agradar a todos. Em qualquer lugar é assim. A diferença é que eu não me importo mais. Tem gente aqui que eu não gosto e continuo não gostando. Mas vou conviver.
UOL - Quais foram os verdadeiros motivos de sua saída da Record?
Datena -
Eu não aguento quando não me deixam falar. Fiquei impedido de falar com a imprensa durante seis meses. Como pode isso? Ficava três horas falando no ar e não posso emitir minhas opiniões na imprensa? Quando fui pra lá, recebi uma série de pedidos de entrevistas e não podia dar nenhuma! Me prometeram um programa em rede nacional e cada vez via meu horário sendo reduzido. Além disso, toda hora mexiam na grade sem me avisar. Mudaram o horário sem me perguntar e isso dificultou até a audiência. Eu tenho um pouco de experiência em TV e sei que ficar mexendo na grade não dá certo. Também me prometeram um helicóptero nas principais capitais do país. E nem em São Paulo eu tinha direito! Eles não queriam que o helicóptero do comandante Hamilton entrasse toda hora no ar. Eu mudo a paginação do programa e o transformo numa grande reportagem ao vivo.
UOL - Você mandou uma carta ao bispo Honorilton Gonçalves, que é vice-presidente da Record, explicando os motivos da sua saída?
Datena -
Mandei uma carta para romper o contrato. Nessa carta, expliquei os motivos da minha saída, que foram esses que te contei e mais alguns que não vou contar (risos).
UOL - Você tem alguma mágoa da Record?
Datena -
Nenhuma. Respeito o bispo Gonçalves, mas vi que não ia dar. O [diretor de jornalismo] Douglas Tavolaro saiu de férias e, quando voltou, me convidou para jantar. Achei que fosse para me parabenizar por causa do Ibope. A gente estava dando 12 pontos de média, com 17 de pico. Mas ele queria me impor regras. Não guardo mágoa dos caras, mas sou um formador de opinião e preciso me expressar.
UOL - E a multa contratual do seu segundo contrato? Você vai mesmo tentar receber cerca de R$ 20 milhões por causa da censura que sofreu na Record?
Datena -
A questão da multa é relativa. Vou deixar isso com o departamento jurídico. Se eu ganhar da Record na Justiça vou doar o dinheiro da multa para uma instituição de caridade. Não quero um centavo sequer.
UOL - Mas a Record também pode querer te cobrar uma multa contratual que está em seu primeiro contrato, não pode?
Datena -
A rádio Record mandou embora grandes profissionais como Leão Lobo e Paulo Barboza sem avisar. Quer dizer que eles podem mandar um monte de profissionais embora em 24 horas e eu não posso ter minha liberdade cerceada e querer ir embora por causa disso em 45 dias? Perdi R$ 350 mil por mês do meu salário vindo para a Band. E a Record ainda quer receber?
UOL - Você aceitou trocar de emissora ganhando um salário menor? É isso mesmo?
Datena -
A minha rotina é a seguinte: Saio de casa e vou para o trabalho. Depois do trabalho, volto para casa. Tenho sete casas, mas só moro em uma. Tenho seis carros, mas uso o de um amigo meu. Acho até que vou vender meus carros. Tenho cinco apartamentos na praia, mas não vou a nenhum. Escapei da morte ao retirar um tumor no pâncreas, para infelicidade de muita gente (risos). Acho que ser conhecido é bom e ruim ao mesmo tempo. Quando a gente comete uma gafe, está ferrado.
UOL - No programa de ontem você trocou o nome das emissoras...
Datena -
Nessa confusão toda que eu passei, isso é normal. Na minha estreia na Record, brinquei com a troca das emissoras, dizendo que sabia que não estava mais na Band. Ontem foi um ato-falho. Mas é normal.
UOL - Você pensa em trazer o comandante Hamilton, que ainda está na Record, para trabalhar com você na Band?
Datena -
Tentei trazer o Hamilton de volta. Tento até hoje. O Hamilton não é somente um piloto de helicóptero. Ele é um repórter maravilhoso. É meu amigo, meu parceiro, meu vizinho. Só que ele tem um contrato grande lá e fica difícil para a Band trazer o Hamilton neste momento. Não sei ao certo quanto é a multa, mas sei que é alta. Mas sinto uma falta enorme dele porque é um profissional maravilhoso e traz agilidade ao programa.
UOL - Como você enxerga essa disputa das emissoras?
Datena -
Acho que cada vez mais os comunicadores populares vão ser procurados pelas emissoras. Antigamente, a classe C ficava em terceiro plano. Depois, fizeram uma pesquisa e descobriram que é justamente essa classe a que mais consome. Aí, os programas populares começaram a interessar. E não é porque é popular que é ruim. As classes C, D e E não são lixo.
UOL - Você já declarou várias vezes que detesta os traficantes. Você já foi ameaçado de morte?
Datena -
Um monte de vezes. Só que eu não tenho medo de ameaças. Quem quer te fazer mal, não avisa.
UOL - Você viveu um momento difícil de sua vida ao ver seu filho envolvido com drogas. E de vez em quando você fala isso no ar. Passar sua experiência pessoal para a TV te aproxima do público?
Datena -
Falo com o coração. Hoje eu falo menos disso. Meu filho não gosta que fale. Ele conseguiu largar o vício, está limpo há dez anos. Vive tranquilo com a família dele em Goiás. Mas cada vez que eu falo, é uma espécie de catarse. O que eu vivi por causa disso foi um desespero. A droga aprisiona não só o dependente, mas a família inteira. Por isso eu odeio os traficantes.
UOL - Como ele conseguiu largar a dependência química?
Datena -
Contei com a ajuda de alguns amigos. Uma vez, ele deu a mão ao Chico Xavier e, uma semana depois, abandonou o vício. Eu não sou espírita, mas fui obrigado a acreditar. O cara é um santo.
UOL- Se você fosse o presidente da Record, quem você colocaria para comandar o "Cidade Alerta" no seu lugar?
Datena -
Colocaria eu mesmo. Mas sem censura.


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