sexta-feira, 9 de julho de 2010

Glee

Por Ale Rocha

“Glee”: fique bem com você mesmo

“Glee” é um dos destaques do próximo Primetime Emmy Awards, premiação máxima da televisão norte-americana, que será entregue no dia 29 de agosto. Foram 19 indicações, entre elas a de melhor série comédia, melhor ator em série comédia (Matthew Morrison), melhor atriz em série comédia (Lea Michele) melhor ator coadjuvante em série comédia (Chris Colfer) e melhor atriz coadjuvante em série comédia (Jane Lynch).

Muitos conhecem “Glee” como uma série engraçadinha recheada de números musicais fofinhos e momentos feitos para derramar lágrimas. A trama é simples. Mostra Will Schuester (Matthew Morrison), um professor que tenta a todo custo recuperar o prestígio do coral da McKinley High School, atualmente formado por alunos socialmente rejeitados.

O que poderia ser mais uma repetitiva trama sobre a cultura norte-americana que despreza qualquer um que não seja um jogador de futebol americano bonitão ou uma líder de torcida gostosa ganha outro foco. Ryan Murphy (“Nip/Tuck”), criador de “Glee”, discute a importância da diversidade e rechaça a ideia de adaptação a padrões para a convivência em sociedade.

Filmes norte-americanos que retratam adolescentes nerds ou desprezados por alguma diferença física ou comportamental existem aos montes. No final, o rejeitado dá o troco naqueles que o desprezam (“A Vingança dos Nerds”) ou acaba socialmente aceito em um misto de pena e mudança de comportamento (“Namorada de Aluguel”).



“Glee” mostra que as pessoas devem ser valorizadas pelo que elas são

Ryan Murphy não quer que seus personagens se encaixem no modelo imposto pela sociedade. O garoto cadeirante, a negra gorda, a menina sonhadora, o garoto gay e a asiática que finge ser gaga fogem do padrão determinado pelo sonho americano, mas nem por isso merecem ficar de escanteio. Possuem talento e devem ser reconhecidos e destacados por isso, sem se ajustar a regras ou rótulos sociais. Devem ser valorizados pelo que eles são, não pelo o que poderiam ser aos olhos daqueles que se acham perfeitos.

“Glee” repete outra série de sucesso que comentei aqui há algumas semanas. Assim como “True Blood”, critica o conformismo da sociedade contemporânea. Por mais que todos desejem e adotem o discurso da diversidade, a necessidade de se encaixar aos padrões sempre fala mais alto. Ryan Murphy, no entanto, insiste que não é necessário mudar sua essência para conviver em harmonia. E isso serve tanto para os rejeitados quanto para os valentões e líderes de torcida que se juntam ao coral. Há espaço para todos, sem que ninguém perca sua individualidade.

“Fique bem com você mesmo. Não é preciso mudar para ser aceito. Cada um pode levar a vida ao seu jeito. Esse é o recado da série”, conta Kevin McHale, que interpreta Artie, o cadeirante de “Glee”. Em férias no Brasil, ele concedeu uma entrevista para apresentar a segunda metade da primeira temporada, que começa a ser exibida pela Fox a partir de 14 de julho, às 22h.

Artie já se livrou da cadeira de rodas em um sonho. Voltou a andar, mas acordou e viu que continuava sem essa possibilidade. Não ficou desapontado. “Talvez ele volte a sonhar, mas certamente não voltará a andar de verdade. Mas isso não é um problema. Ele sabe que isso não o limita”, revela Kevin McHale.

Esse é o recado de “Glee”.

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