Tereza Cristina Siqueira de Velmont. Muito prazer.
Ah, mas tenho mesmo. Eu, Tereza Cristina Siqueira de Velmont (Christiane Torloni), sempre tenho razão. E, diante dos fatos, como não ter?! Estava na cara daqueles dois que tudo era uma farsa, um golpe para arruinar minha família. Depois que tudo se acalmou, eu consegui entender melhor por que aquela criatura grotesca, essa tal de Griselda (Lília Cabral), estava tão infiltrada em minha casa e no restaurante. Não há como negar que ela também estava envolvida.
Renê (Dalton Vigh), meu marido, insistia para eu ter calma, mas numa hora dessas?! Não quis saber de explicações de ninguém. Coloquei mãe e filho para fora. Foi um episódio lamentável! Aquele moleque do Antenor (Caio Castro)! Eu sempre desconfiei dele. Desde o início, não entendia por que tanta pressa para noivar. Aquilo não me parecia muito certo.
A cara da riqueza
Mas a Patrícia (Adriana Birolli), minha filha, nunca me escutou. Para falar a verdade, ela nunca me escuta. Em beleza e elegância, é uma legítima Velmont. Mas em personalidade é muito diferente de mim. Além de pensarmos de maneira oposta, falta-lhe explosão, glamour. Ela puxou bem mais ao pai, realmente. É mais passiva, acredita nas pessoas, não tem malícia. Imagine que estuda Psicologia e não seleciona bem as suas amizades. Já disse que essas amigas dela não são boa influência, mas Patrícia gosta de bradar aos quatro cantos que não é uma “patricinha” e que mantém os pés no chão. Para que manter os pés no chão, se ela pode ter o céu?!
Nós duas discutimos bastante. Mas, pelo menos com ela, eu ainda consigo falar. Do Renê Junior (David Lucas), meu filho caçula, eu não posso dizer o mesmo. Ele vive trancado no quarto na frente daquele computador. Diz que está estudando, mas eu tenho minhas dúvidas. Fico em cima, afinal sou mãe e esses adolescentes não sabem o que fazem. Já disse pra ele que de mim ninguém esconde nada.
Renê Junior tem ótima relação com o pai. Os dois sempre conversam. Eu acho ótimo porque, apesar de mimar um pouco meu caçula, não tenho muita paciência para essas questões masculinas. Eu já me ocupo bastante com todo o trabalho que dá manter essa casa funcionando perfeitamente. Ou vocês acham que é fácil lidar com subalternos?
Marilda (Katia Moraes), a doméstica aqui de casa, se finge de invisível sempre que me vê. Não faz nada direito. Baltazar (Alexandre Nero), o motorista, chegou aqui em casa outro dia com o rosto todo roxo. Deve ter apanhado na rua e estava irreconhecível. Agora, imaginem! Eu, Tereza Cristina Siqueira de Velmont, andando pela cidade com aquele monstro?
Já o Crô (Marcelo Serrado), apesar de ser uma tartaruga, é a única pessoa aqui em casa que me entende e resolve as coisas. Ele é uma espécie de mordomo, escudeiro, cabeleireiro particular. Uma dedicação total, 24 horas por dia. Acho que o sonho dele era ser eu, porque vive me colocando uns apelidos tão enaltecedores… Crô é uma figura rara: fala pelos cotovelos, acha lindo aquele topete, aquela calça justa. Vive tão grudado em mim que, às vezes, dá nervoso. Só desgruda para passear na praia com meus cachorrinhos Doce e Cabana. Eu não vivo sem ele, mas não admito isso de jeito nenhum!
Crô andou me pedindo umas horas livres pela manhã. Eu desconfio que ele esteja namorando e não queira me falar. Qualquer dia desses, eu pergunto à Vanessa (Milena Toscano), a sobrinha dele. Por falar nela, é outra com quem tenho que abrir o olho. A menina até que é bonita, um pouco moderninha demais pro meu gosto, mas, a pedido do Crô, eu decidi ajudá-la financeiramente com a mensalidade da faculdade. Só acho que ela está se infiltrando demais na minha família. Primeiro a amizade com Patrícia, e agora esse trabalho de hostess no restaurante do Renê.
Quer dizer, do Renê não, né? O restaurante é meu! Foi um presente ao meu marido, que é um excelente chef de cozinha. Quando nos conhecemos, Renê pertencia a uma família falida. Eu tinha que fazer alguma coisa para lhe dar um pouco mais de status. Então tive a ideia do “Le Velmont”, um restaurante sofisticadíssimo e muito bem conceituado na cidade. Renê leva a fama, mas quem pagou por tudo aquilo fui eu.
Meu marido é lindo, de uma masculinidade impressionante. É o meu porto seguro, apesar de ser diferente de mim. É mais pacífico, muito tranquilo e tem uma mania irritante de ser o bom samaritano. Tenho que admitir que Renê tem um dom para atrair as pessoas. É simpático, sorri pra todo mundo, quer sempre ajudar. Às vezes, até passa dos limites. Mas eu amo esse homem enlouquecidamente!
O “Le Velmont” foi uma das poucas coisas que fiz com a herança que recebi. Meus pais morreram quando eu tinha 18 anos. Eu e meu irmão Paulo (Dan Stulbach) ficamos com todo o patrimônio da família. Ele, muito cedo, resolveu abrir uma grife de moda praia com sua esposa Esther (Julia Lemmertz), que é estilista. Ainda bem que hoje é uma grife conhecida até na Ásia. Já eu, decidi levar a vida que realmente mereço: muitos vestidos, viagens, jantares e spas. Tive um trabalhão para despachar a chata da Tia Íris (Eva Wilma) pra Nova Iorque e controlar minha casa como eu queria, mas eu consegui.
Então, agora, depois disso tudo, de todo o meu esforço pra manter nosso nome, a honra da nossa família, as minhas mordomias, chegam um tal Antenor e uma tal Griselda, essa duplinha de vigaristas chinfrim querendo se meter comigo? E eu ainda tenho que ser benevolente com aquela faz-tudo? Renê teve pena de todo mundo, menos de mim. Foi procurar aquelazinha, achando que a pobre coitada não tinha culpa de nada e estava sendo tão enganada quanto nós. Mas era só o que me faltava! Renê e eu chegamos a discutir, mas eu me prometi que não ia deixar ninguém se meter no meu casamento.
Quer saber? Em uma coisa eu tenho que concordar com aquela mulher de bigodes: chega de falar de quem não merece!
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