Bom dia, sou Griselda da Silva Pereira.
Meu nome é Griselda da Silva Pereira (Lília Cabral), mas aqui no Quebra-Mar, no Jardim Oceânico, onde moro, todo mundo me conhece como “Marido de Aluguel”. Bom, não só aqui, mas em boa parte da Barra da Tijuca e do Itanhangá.
É que depois que meu marido morreu, eu precisei me virar pra manter a casa e a família e acabei virando especialista em pequenos consertos: troco torneira, conserto telhado, mudo interruptor de luz, faço de tudo. Qualquer coisa que precisar, é só chamar! Coloco meu macacão, pego minha caixa de ferramentas e rapidinho chego aí de bicicleta. Modéstia à parte, sou boa no que faço e quebro o galho de mulheres que não têm os maridos sempre em casa. Há quase 20 anos, repito o mesmo todos os dias: após deixar o café prontinho para os meus filhos, vou à luta bem cedo, pois já tenho clientela fixa e meu dia é cheio!
Por causa desse meu jeitão assim mais prático, ganhei apelidos na vizinhança e ouço piadinhas todos os dias. Sei que as minhas clientes admiram minha força e coragem, mas os homens aqui da região têm inveja de mim. Me chamam de “mulher macho” e Pereirão, mas eu não ligo. Tenho mais o que fazer e já estou acostumada com a vida dura.
Vim de Portugal aos cinco anos com meus pais. Aos 15, já estava casada, grávida e tive que assumir muitas responsabilidades ainda menina. Casei com um filho de portugueses, o José Pereira (José Mayer). Pereirinha, como o chamavam, era pescador e chegado à bebida. Acho até que foi ele quem deu um empurrãozinho para o meu trabalho por que nunca estava em casa quando eu precisava que consertasse alguma coisa. Até que um dia desapareceu no mar e nunca encontraram seu corpo. Meus filhos que me perdoem, mas foi até um alívio me livrar daquele encosto.
Nunca me casei de novo. Tem até um português, o Guaracy (Paulo Rocha), dono do bar “Tupinambar”, que não desiste de mim. Vive tentando me agradar. Mas eu não quero nada com homem, não. Estou muito bem assim e não tenho tempo pra perder. Eles dão muito trabalho. Olha só a coitada da minha amiga Celeste (Dira Paes)! Ela vive sofrendo nas mãos do Baltazar (Alexandre Nero) e não faz nada. Quem faz sou eu que, vira e mexe, tenho que lembrá-lo que não se maltrata mulher.
Do falecido, só ficaram dívidas e meus três queridos filhos: Joaquim José (Malvino Salvador), José Antenor (Caio Castro) e Maria Amália (Sophie Charlotte). A casa onde moramos é pequena, mas com jeitinho cabemos todos, inclusive, meu neto Quinzinho (Gabriel Pelícia). Vivemos aqui há muito tempo, mas a casa não é nossa. É de um empresário chinês rico e muito misterioso, com quem Pereirinha andava metido antes de sumir.
O curioso é que ele nunca nos cobrou aluguel. Emprestou a casa e só pediu que a mantivéssemos como está, sem reformar nada. Só faço mesmo obras de manutenção. Morro de medo de que ele reapareça, em algum momento, e venha pedir a casa de volta. Se Nossa Senhora de Fátima permitir, um dia eu ganho na loteria, compro uma pra gente e me livro dessa preocupação. Jogo toda semana há anos.
Quinzé (Malvino Salvador), Griselda (Lília Cabral) e Amália (Sophie Charlotte) (Foto: TV Globo/ Renato Rocha Miranda)
Eu sou assim mesmo, vivo para a minha família. Meu filho mais velho, Quinzé (Malvino Salvador), voltou a morar comigo depois que a esposa dele, mãe de Quinzinho, abandonou a família pra viver lá no exterior com um lutador de Vale-Tudo, o Wallace (Dudu Azevedo). Teodora (Carolina Dieckmann) nunca foi fácil mesmo, nunca priorizou a família. Renegar um filho assim, ainda criança, é crueldade. Por isso que eu dou todo o amor do mundo para o meu neto. E me encho de orgulho quando vejo em Quinzé um pai tão dedicado.
Mas meu filho ficou sem chão. Vive amargurado, pra baixo. Acho que ainda gosta da Teodora. Quinzé trabalha lá no “Tupinambar” como ajudante do Guaracy (Paulo Rocha). Tem lá seus romances, mas nada sério. Deus queira que essa Teodora nunca mais apareça.
Maria Amália (Sophie Charlotte), minha caçula, é diferente. Muito responsável e equilibrada, nunca tive que me preocupar com ela. Sei que puxou a mim: tem caráter e é muito trabalhadora. Ela vende os cosméticos naturais que Dona Zilá (Rosa Marya Collin), uma senhora muito querida aqui da região, faz manualmente. Amália diz que vende um perfume afrodisíaco e que Dona Zilá não revela sua fórmula para ninguém. Um mistério! Parece que esses cremes funcionam mesmo, mas eu nunca experimentei. Isso não é pra mim. Amália não concorda muito com meu comportamento e vive tentando me deixar mais feminina, mas eu sei que me ama assim do jeito que eu sou.
Minha filha namora o Rafa (Marco Pigossi), um rapaz bem bonito, que trabalha em uma loja e oficina de motos aqui no Jardim Oceânico. Mas alguma coisa me diz que Amália ainda vai sofrer muito com esse rapaz, coitada. Acho que aquele ali parece ser o que não é. E coração de mãe não se engana!
José Antenor (Caio Castro), meu filho do meio, cursa Medicina, graças a uma bolsa que eu consegui na Universidade Pessoa de Moraes. Ele sonha em ser cirurgião plástico e, para isso, se esforça mesmo. Sua prioridade são os estudos. Acho até que Antenor se reserva demais e quase não fica com a família. Às vezes, ele tem uma atitude grosseira até. Diz em alto e bom som que quer mudar de vida, ser rico, que não entende nossa atitude. Esse daí puxou ao pai. Nós dois já tivemos algumas boas discussões por causa dessa ambição exagerada dele.
Antenor é apaixonado por uma moça, a Patrícia (Adriana Birolli), que também estuda na universidade e é de família de classe alta. Sua casa é enorme, fica num condomínio de luxo aqui da Barra da Tijuca. Fiz vários consertos lá e no restaurante do pai dela, o senhor Renê (Dalton Vigh), sem nem saber que ele era sogro do meu filho. Por que se vocês acham que foi o Antenor quem me contou tudo isso, se enganam. Ele não comenta com ninguém lá em casa sobre sua vida. Só fiquei sabendo disso tudo depois de ter passado a situação mais humilhante e decepcionante da minha vida. Tinha tanto orgulho do Antenor, mas meu próprio filho acabou me pregando uma peça.
Guaracy (Paulo Rocha) e Griselda (Lília Cabral) (Foto: TV Globo/ Alex Carvalho) |
Mãe de aluguel
Aconteceu lá na casa de dona Tereza Cristina (Christiane Torloni), mãe da Patrícia. Eu tinha consertado o fusível das luzes do jardim, que estava queimado, e deixei tudo bem direitinho. Mas, uns dias depois, a madame me liga histérica, dizendo que meu serviço tinha ficado uma porcaria e que as luzes estavam queimadas de novo. Como assim meu serviço ficou uma porcaria? Eu sempre verifico tudo muito bem! Fui correndo pra casa dela. Além de não querer deixá-la na mão no meio de uma festa, não podia deixar ninguém falar mal do meu serviço assim, não.
Parece que Nossa Senhora de Fátima estava me empurrando para aquela casa. Para eu abrir meus olhos. Quem diria que a festa de dona Tereza Cristina era justamente para celebrar o noivado da filha dela com o meu, José Antenor?! Enquanto eu consertava mais uma vez aquele bendito fusível, Crodoaldo (Marcelo Serrado), o mordomo da casa, me acompanhava e não parava de falar da festa de noivado de Patrícia.
E fui ficando cada vez mais curiosa depois que avistei ali, parado perto do jardim, um carrão que tinha visto nesse mesmo dia, mais cedo. Meus filhos acharam que eu tinha me confundido, mas eu sabia que tinha visto o José Antenor dirigindo esse mesmo carro ali na Avenida Sernambetiba. Quando Crodoaldo me disse que o nome do noivo era Antenor, eu não tive mais dúvidas. Fui pro meio do jardim, mais perto da casa, e vi meu próprio filho apresentando uma vigarista como mãe. Uma tal Gisela Pereira (Ângela Vieira), criadora de gado do Mato Grosso do Sul, fina e rica. Olha, naquele momento, eu tive certeza de uma coisa: podia reparar tudo nessa vida, menos o meu coração despedaçado de mãe.
Porque me renegar desse jeito? Porque sentir tanta vergonha de mim, de nossa origem humilde? A ponto de apresentar outra pessoa como mãe! Eu nunca deixei faltar nada para os meus filhos. Sempre ralei dia e noite pra manter aquela casa, para comprar os iogurtes que ele tanto gosta. Para que tanta ambição, minha Nossa Senhora? Foi uma dor e uma humilhação tão profundas que eu não sei nem explicar. Até Crodoaldo notou que eu comecei a chorar.
Tinha decidido sair quietinha por aquele portão, sem falar nada. Ah, mas quando pensei em tudo o que fiz por ele, foi subindo uma raiva, uma vontade de dar uma surra naquele menino… E foi o que eu fiz! Entrei naquela sala, gritando aos quatro ventos que a mãe verdadeira daquele mentiroso era eu. No início, ninguém entendeu nada. Custaram a acreditar que uma mulher como eu, assim meio rude, pudesse ser mãe do Antenor. Mas a impostora, aquela atriz barata que ele contratou, logo se entregou. E eu aproveitei pra descarregar tudo o que estava engasgado na minha garganta.
Só que dona Tereza Cristina achou que eu fazia parte daquela mentirada toda, que estávamos tentando dar um golpe na família dela. Enxotou a gente de lá. Imagina… eu sou humilde, mas sou muito honesta, viu?! Antenor não quis nem falar comigo. Entrou naquele carrão e saiu a toda. De qualquer maneira, o estrago estava feito. Não tive forças pra mais nada: sentei no meio fio e desandei a chorar. Seu Renê (Dalton Vigh) até que ficou muito sensibilizado comigo e veio me estender a mão.
Mas quer saber? Aquele mal agradecido do Antenor não brinca mais comigo, não. E chega de ficar falando de quem não merece nem uma lágrima minha. Até porque Dona Tereza Cristina não vai perder a chance de dar a versão dela, né? E gente rica sempre tem a razão…
Nenhum comentário:
Postar um comentário