segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Walcyr Carrasco comenta a estreia de 'Aquele Beijo'


Confesso que hoje foi meio estranho sentar em frente à TV às 19:30 e ver o horário ocupado por outra novela. Depois de meses com “Morde&Assopra” eu já estava habituado a me instalar, comer chips de batata doce e tomar café, assistindo a minha novela e conferindo ansioso a audiência. E também confesso: um autor às vezes sente inveja do outro. E eu senti do Miguel Falabella, logo no começo de “Aquele Beijo”.
Aliás, vou falar a verdade. Senti mesmo inveja desde que ouvi o título pela primeira vez. “Aquele Beijo” é lindo, chamativo. Fiquei pensando: “por que não tive essa idéia primeiro? ”
A inveja continuou quando a novela começou. O Miguel inventou um novo recurso da teledramaturgia em novela: a narração. Nunca vi uma novela, antes, com essa idéia. Só o seriado que ele fez com a Cláudia Jimenez. E que recurso bom! Muitas vezes, o autor se mata para explicar determinada situação. Ele não: explicou em poucas palavras, em off. E ainda fez comentários. Adorei.
A direção geral da Cininha de Paula e de Núcleo do Roberto Talma estão ótimos. A novela é solar, colorida. Os atores estão superbem. Tenho uma predileção especial pela Fernanda Souza, com quem fiz “Alma Gêmea”. Adorei vê-la num papel de quase vilã. A Elizangela também estava perfeita. O Diogo Vilella impagável! Também adoro a Sheron Menezes, com quem fiz ”Caras&Bocas”. É uma atriz que merece mais oportunidades! E o Ricardo Pereira perdeu o sotaque português! Embora faça filho de portuguesa, está ótimo, um galã com todas as qualidades de um bom ator. Você vai ainda mais longe, Ricardo! (Segredo: eu tentei convidá-lo para o padre de “Morde & Assopra”, mas ele já estava reservado para a novela do Miguel. E tudo está certo: o Erom fez um padre excelente. Também nada mais justo que o Ricardo aguardasse esse papel, de protagonista, feito na medida para ele).
A novela tem uma trama amorosa sdeutora, desde o primeiro instante, quando a personagem de Giovanna Antonelli exigiu casamento com véu e grinalda ao rapaz rico, filho da patroa de sua mãe, interpretado por Victor Pecoraro. E uma trama maior, mais social, que é a luta de uma comunidade para não ser destruída devido aos interesses dos proprietários de uma grande loja. Há também um tom de humor, presente em quase todas as cenas.
Um detalhe especial: a consultora de figurino é Betty Prado. Ela foi uma das modelos mais famosas do Brasil, aqui e no exterior. Conhece moda profundamente. Raramente se vê tal cuidado. Muitas vezes, em novelas, o mundo fashion é exagerado, fora de tom. Tenho certeza de que com Betty, vai ser retratado à perfeição. Que bela idéia, trazer a Betty Prado para a TV!
Gostei bastante. E vamos deixar de lado essa brincadeira de que fiquei com inveja. Falei em inveja para mostrar a extensão da minha admiração. Fiquei, na verdade, feliz por passar o bastão para uma novela tão gostosa de assistir! Como estamos falando em “Aquele Beijo”, vai lá um bjão para o Miguel, a Cininha, elenco e toda a equipe!
Sinceramente, fica minha admiração para uma das frases do Miguel durante o primeiro capítulo: ” É, se vc quer saber o que Deus pensa do dinheiro, é só saber a quem ele dá!”


Walcyr Carrasco – Época

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