domingo, 6 de fevereiro de 2011

Autores e Diretores Globais:Guerra e Paz

Tão importante quanto o texto é a forma como ele é apresentado na teledramaturgia. A movimentação das câmaras para passar a emoção correta, a maneira como cada ator vai exteriorizar um diálogo, seus figurinos, a fotografia da cena e toda a estética impressa em cada tomada. Nesse casamento audiovisual, a balança precisa estar sempre em equilíbrio entre os dois pólos mais importantes das produções de dramaturgia: autores e diretores. Enquanto há décadas era comum perceber atritos entre eles, atualmente tem sido mais comum a igual divisão de tarefas e os acordos mútuos na escolha dos mais variados elementos das produções. Desde a escolha do figurino, caracterização, cenografia e escalação de cada ator e integrante da equipe técnica, tudo é definido em comum acordo. O autor Gilberto Braga, por exemplo, que trabalha com o diretor Dennis Carvalho desde Dancin’ Days, conseguiu um equilíbrio entre os poderes sobre as produções. “Nunca nos perguntamos quem manda mais, como acontece em muitos trabalhos que envolvem criação. Cada ator é escolhido pelos dois. Se um discordar, partimos para outro. Não há espaço para brigas”, explicou Gilberto Braga.

Para Ricardo Waddington, diretor de núcleo de Cordel Encantado, próxima trama das seis da Globo, o mais importante nessa parceria na TV é perceber, com o tempo, com quais profissionais se tem mais empatia e semelhanças para não correr riscos. “Não trabalho com alguém que eu não vou com a cara e com quem eu não tenha admiração artística e ética. Nem autor e nem ator. Se eu não admirar minha equipe, o resultado do trabalho fica comprometido”, avaliou Ricardo, antes de emendar. “É difícil não pensar assim hoje em dia. A palavra poder não entra mais nessas relações”, assegurou

Mas o poder igualitário entre autores e diretores arrebenta do lado mais fraco quando existem divergências na produção. América, de Glória Perez, logo no início sofreu alterações no perfil da mocinha Sol, de Deborah Secco, na trilha sonora e até na música de abertura da novela. Tudo porque a autora e o diretor Jayme Monjardim começaram a pensar de formas diferentes na produção. “Tenho o maior orgulho de América. Implantei a novela e essa fase é a mais importante”, ressaltou Jayme. “Autor e diretor têm de dançar no mesmo ritmo como em uma dança. Fui feliz na maioria dos meus casamentos artísticos. Só deu errado uma vez”, observou Glória.

Logo após este divórcio artístico, Jayme foi prontamente chamado por Manoel Carlos, que há tempos queria trabalhar com ele. “Assim que ele pediu para se afastar de América, solicitei que viesse trabalhar comigo, mas a emissora deixou que ele decidisse”, lembrou Maneco.
Em alguns casos, é necessário fazer ajustes para que a convivência entre diretor e autor aconteça da melhor forma. Em O Beijo do Vampiro, por exemplo, o diretor Marcos Paulo pediu que o autor Antônio Calmon evitasse diálogos muito longos porque eles eram mais propícios a cacos e certamente as cenas seriam cortadas. “Nem o autor é datilógrafo e nem o diretor é fantoche. Novela tem de ser o circo dos democráticos”, analisou Calmon.

Sensibilidade apurada
Para a autora Maria Adelaide Amaral, que voltou às novelas com o remake de Ti-ti-ti, a presença de um diretor que domina a comédia tem sido crucial para a autora neste retorno. Maria Adelaide costuma escolher o elenco de suas tramas em parceria com os diretores, mas acha que, neste trabalho, as indicações do diretor Jorge Fernando foram perfeitas na história, principalmente Murilo Benício e Alexandre Borges como os rivais Victor Valentin e Jacques Leclair. “O diretor é quem mais convive com os atores. Para eles, essa escolha é fundamental”, frisou a autora.

Mas nem sempre é fácil trabalhar com alguns diretores, principalmente os que têm uma linha mais autoral que acaba interferindo diretamente no texto. Quando trabalhou com o diretor Luiz Fernando Carvalho na minissérie Os Maias, Maria Adelaide chegou a ter divergências com o rumo da produção. “Ele é um craque, cuidadoso e refinado, mas pensamos diferente em Os Maias porque meu foco é o texto”, ressaltou.

Instantâneas
# Em Guerra dos Sexos, de Silvio de Abreu, exibida em 1983, os diretores Jorge Fernando e Guel Arraes, que ainda não eram titulares na direção de núcleo da Globo, assumiram juntos a novela de Silvio. No início, ambos se estranharam na concepção das tomadas.

# Aguinaldo Silva trabalhou por anos com o diretor Paulo Ubiratan. Ambos foram parceiros nas tramas Roque Santeiro, Tieta, Fera Ferida, A Indomada, Pedra Sobre Pedra e Riacho Doce. “Foi o meu maior cúmplice na TV. Ele sempre acrescentava algo às novelas”, lembrou Aguinaldo.

# Carlos Lombardi assume que tem problemas com alguns diretores que sempre costumam usar muitas cenas com gruas. O autor sempre pede para estes profissionais utilizarem o menos possível este recurso em suas tramas.

# Wolf Maya é um dos diretores mais elogiados pelos autores e outros diretores que já trabalharam com ele, como Carlos Lombardi e Ignácio Coqueiro. Esses profissionais afirmam que Wolf se sobressai na direção dos atores, independentemente da direção e marcação das cenas.

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