quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Sílvio de Abrêu conta o final de Passione

LAURA MATTOS
DE SÃO PAULO



"Passione" acaba amanhã e seu autor, Silvio de Abreu, disse à Folha que o final vai contrariar o público. Para ele, a catarse -"mocinho recompensado, vilão castigado"- não faz pensar. Quer que o espectador "discuta o desfecho para a novela não terminar em 14 de janeiro".
Em seu apartamento, em São Paulo, na segunda, Abreu, 68, falou sobre a novela das oito, a 14ª da sua carreira, audiência, novas mídias, e, o melhor para quem é noveleiro: comentou as tramas e as possíveis soluções.
A partir da conversa, a Folha aposta que Fred ou Clara, vilões interpretados por Reynaldo Gianecchini e Mariana Ximenes, seja responsável pelos assassinatos.
Abreu diz que sua estratégia é confundir o público ao longo da trama, mas que sua história é simples. A solução foi óbvia em "Belíssima", sua novela anterior. Vilã desde o início, Bia Falcão (Fernanda Montenegro) foi revelada no último capítulo como a responsável por todos os crimes. Leia abaixo trechos da entrevista.

 




Pistas
Não gosto de novela morosa. Gosto de novela que traga a cada dia um entretenimento diferente. Por isso misturo dois gêneros lúdicos, o thriller e a comédia, e tempero com melodrama. Dou pistas sempre, nunca pistas falsas.
Os mistérios são algo que o público poderia ter deduzido. Quando a novela acabar, veja o primeiro capítulo, havia ali indícios. Minhas histórias são simples, o modo de contar é que é complicado.
Confundo o público, mas sei desde o início onde vou chegar. A morte de Saulo [Werner Schünemann] é o centro, porque o assassino matou Eugênio [Mauro Mendonça] no primeiro capítulo.


Vilões
"Má o meno" [os vilões vão se dar mal]. Parte se dá mal, parte, bem. Não gosto de maniqueísmo. Gosto que seja um pouco espelho da sociedade, e não é verdade que vilões são castigados. Gostaríamos que fosse, mas não é.
Ao fazer a catarse -mocinho é recompensado e bandido, castigado-, não deixamos o espectador pensar. Quando o contrariamos, ele fica discutindo: Por que o vilão foi solto? Para a novela não acabar em 14/1, tem de deixar ruído.


Manchetes mentirosas
Revistas de TV fazem manchetes alucinantes e mentirosas. Quando a TV se democratizou, no Plano Real, a classe DE ficou importante.
As revistas que custavam R$ 10 se dividiram em dez de R$ 1. Não há dez novidades por semana, então inventam com a maior desfaçatez. Mas isso me diverte. Deus me livre fazer uma novela que não sai na capa das revistas!


Comércio de informação
Não gosto é do comércio, de quem suborna funcionários da TV para ter os capítulos.
Provamos que isso existia na "Próxima Vítima" [1995]. Falei com o [então diretor da Globo] Boni e ele descobriu que pessoas do departamento de fotocópia vendiam capítulos e as mandou embora.
Agora, com "Passione", voltei a ter problemas e tive que picar capítulos e mandar para atores só a sua parte. Só a [diretora da novela] Denise [Saraceni] sabia a ligação das cenas. Quase sempre percebemos quem passou. A coluna dá a informação e publica nota de um ator mixo, que obviamente está pagando aquele favor. Isso sem falar do roubo, que é inaceitável.


Audiência
Me decepcionei com o fato de o público não ter embarcado em "Passione" no início. Isso me trouxe uma lição: cada novela tem que buscar seu público. Não tem mais a história de que a Globo já faz da novela um sucesso.
Está sendo muito discutido se as pessoas estão vendo a novela em outras mídias ou se não querem mais novela. A Globo ainda não sabe. Não entende por que a repercussão é maior do que o ibope.


Elenco de estrelas
Tínhamos um elenco de estrelas: Fernanda Montenegro, Aracy Balabanian, Vera Holtz, Cleyde Yáconis, Irene Ravache... É difícil fazer com que cada uma tenha seu mundo na história e não se sinta coadjuvante. Quando se juntavam em cena, uma não ficava embaixo da outra.
Para mim, foi uma questão de respeito a essas atrizes.


"Guerra dos Sexos"
Em 2012 devo fazer o remake de "Guerra dos Sexos". Acho que é a primeira vez que alguém faz seu próprio remake, mas ninguém fará melhor do que eu [risos]. Penso no Tony Ramos no lugar do Paulo Autran, mas não sei quem fará o papel da Fernanda Montenegro.

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