terça-feira, 17 de agosto de 2010

Entrevista de Betty Faria para o blog 'Eu Prefiro Melão'


Entrevista realizada por Vitor Santos

do blog 'Eu Prefiro Melão'



Inevitável não começar pelo início (risos!). Você já deve ter respondido isso muitas vezes e, inclusive, já contou em sua biografia “Rebelde por natureza” lançada pela Imprensa Oficial, mas conte-nos como tudo começou. Como aquela filha única de militar que estava destinada a ser uma bailarina enveredou pela carreira de atriz?

BETTY- O ballet foi a porta que abri no show business, mas não me realizava. Eu queria ser uma atriz que cantava e dançava. Batalhei muito fazendo cursos de teatro, conhecendo pessoas, pedindo oportunidades e chance para fazer testes, que foram muitos, até que consegui um papel na comédia “As Inocentes do Leblon” e passei no teste para o filme “Amor e Desamor”.


Você esteve no elenco de muitas novelas de Janete Clair e até contou no espetáculo “Betty.doc” que ela foi sua fada madrinha, sobretudo lhe deu muitas chances em seu início de carreira e lhe presenteou com personagens inesquecíveis como a Lucinha de “Pecado Capital”. Quais são suas melhores lembranças da autora e das novelas dela em que esteve? Chegaram a ser amigas?


BETTY - Fiz algumas novelas de Janete, acho que cinco, e comecei com pequenos papéis que foram crescendo até chegar em “Pecado Capital”. Durante esse tempo, tive a sorte de ser reconhecida por ela, e nos tornamos amigas. Janete sempre foi muito carinhosa comigo. Um amor de pessoa, amiga e solidária.


Tieta foi um marco indiscutível em sua carreira. Você a compôs com uma propriedade tão grande e arrebatou o Brasil de tal forma que fica impossível imaginar a personagem na pele de outra atriz que não seja você. Além de utilizar as características da personagem escrita por Jorge Amado e adaptada para a TV por Aguinaldo Silva, quanto de Betty você emprestou a Tieta?


BETTY - Tieta tem a característica da pessoa que quer ser feliz, com talento pra isso. Acho que isso nós duas temos em comum, pois eu me esforço sempre para viver positivamente. Quando estudo um personagem e começo a fazer, empresto meu corpo e emoções pra ele. Então é o personagem, entende? Mas sou eu lá, “fazendo de conta”.

Uma cena marcante de Água Viva” (1980) foi a surra que sua personagem Lígia deu em Selma (Tamara Taxman) no banheiro de uma famosa casa de shows. Tanto que o autor Gilberto Braga repetiu a mesma situação anos depois em “Celebridade” (2003). A cena impressiona pelo realismo. Parece que você está batendo de verdade em Tamara. Foi difícil fazer a cena?


BETTY - Esse tipo de cena sempre preocupa, pois eu quero fazer com verdade, pra valer, e, ao mesmo tempo não machucar quem esta contracenando comigo. É o jeito de bater, a técnica, sem perder a concentração, motivação e emoção.

“Incidente em Antares” é uma minissérie pouco lembrada, mas que contém atuações primorosas, dentre as quais destaco sua pequena, mas muito marcante participação. A cena em que sua personagem Rosinha pede que a personagem de Marília Pêra leve um recado pra Deus é das mais belas, singelas e líricas que já vi na TV. Como surgiu o convite para fazer a minissérie e que lembranças você tem dela?


BETTY - Paulo José me convidou. Em todos os trabalhos passamos por situações, às vezes, engraçadas, outras chatas, outras difíceis, mas nessa cena que você gosta, aconteceu uma coisa que todos da equipe que estavam lá, lembram até hoje. Estávamos nos preparando pra gravar , quando no fundo do cenário passou uma cadeira de rodas vazia. Não tinha ninguém sentado nem empurrando a cadeira. Ela simplesmente passou pelo cenário vazia andando, aliás, rodando. E ficamos estatelados, pois gravávamos num antigo leprosário desativado. Deu um medo! Nunca mais esqueci. Saímos de lá depois de concluído o trabalho, achando tudo que você pode imaginar. Foi forte!

Seu personagem mais recente na TV, a Amália Petroni de “Uma rosa com amor” mostrou uma Betty diferente do que o grande público está acostumado a ver pela TV, pois te deu a oportunidade de fugir do estigma de mulher sexy. Você acha que ela representou um divisor de águas em sua carreira?


BETTY - Mulher sexy nessa idade? É engraçado isso e lisonjeador, mas nem me passa pela cabeça. Fui compondo Amália com a idade dela (60anos) com a realidade que ela vivia com aquele marido, filhos, dureza de vida, e condição social. Gostei de fazer Amália, me diverti também muito com ela.


Você emprestou a Amália características de Shirley Valentine, personagem de sua atual peça que lhe rendeu uma indicação ao Shell?


BETTY - Shirley Valentine é totalmente diferente de Amália. Shirley estudou, Amália não. Shirley fala com as paredes de tanta solidão a dois, Amália sempre conformada e feliz com sua vidinha no cortiço, nunca questionou os rumos de seu casamento, fazendo doces pra fora e preocupada com a família. Shirley consegue dar a volta e sair da vida que lhe fazia tanto infeliz.


Que autores de TV você nunca trabalhou e que deseja trabalhar algum dia? E dos que você já trabalhou, com quem gostaria de trabalhar novamente?


BETTY - Dos autores que ainda não trabalhei e quero algum dia fazer um trabalho posso citar João Emanuel Carneiro, Silvio de Abreu e Maria Adelaide Amaral. Eles são maravilhosos! Dos que trabalhei, posso citar Gilberto Braga, Gloria Perez e Aguinaldo Silva, claro, pois fiz muitos personagens lindos que ele escreveu.

Tieta, Lucinha, Marina Cintra, Lazinha Chave de Cadeia, Mirandinha, Lígia, Jussara, Glória, Maria Maravilha, Lili Carabina, Walkiria... você costuma interpretar mulheres diferentes entre si, mas com uma característica em comum: são sempre mulheres fortes e batalhadoras que juntas podem formar um painel do imaginário feminino brasileiro. A que você atribui essa recorrência de personagens?


BETTY - Aconteceu. Não sei responder a essa pergunta direito.

Você é uma das poucas atrizes brasileiras que cantam, dançam e representam, ou seja, uma artista completa. Atrizes desse tipo são pouco valorizadas em nosso país? Por que?


BETTY - Hoje, com a frequência de grandes musicais no teatro, as atrizes que cantam e dançam já estão bem mais valorizadas.

Em sua premiada carreira no cinema, você teve oportunidade de encarnar personagens que explorassem mais sua versatilidade como nos filmes “Bye, bye Brasil”, “Romance da empregada”, “A estrela sobe”, “Chega de saudade”, entre tantos outros. Gostaria de trabalhar no cinema com maior freqüência? Quais são suas personagens favoritas?


BETTY - Gostaria sim de fazer mais cinema, mas isso não tem acontecido. É difícil dizer as personagens favoritas mas vamos lá: “A Estrela Sobe” (Leniza Mayer), “O Cortiço” (Rita Baiana), “Anjos do Arrabalde” (Dália), “Bye Bye Brasil” (Salomé) , “Romance da Empregada” (Fausta) e “Chega de Saudade” (Elza). Às vezes esqueço o nome dos personagens, por isso escrevi os títulos dos filmes.


E graças à sua carreira em cinema, você foi a representante brasileira do 38th AFI Life Achievement Award, na Califórnia em junho deste ano e teve a oportunidade de conhecer Meryl Streep. Como foi seu encontro com a atriz e o que você achou do evento?


BETTY - Foi um encontro muito agradável, simpático, conversamos muito e ela, Meryl ,me deixou a impressão de que é da “turma”. Uma atriz como todas nós. Foi uma delicia conhecê-la. O evento foi lindo, com homenagem a Mike Nichols, um grande cineasta e um cara agradabilíssimo, simples, inteligente e humilde. Ganhei 10 filmes dele e fiquei babando de felicidade. Todos que trabalharam com ele estavam lá, e foi uma noite de superstars. Um luxo! Momento inesquecível em minha vida. Valeu.

Na novela “O salvador da Pátria” (1989), sua personagem, Marina Cintra, protagonizou cenas ousadas como as que ela admitia não ter sentido prazer após uma transa ou falando sobre sexo abertamente com as filhas e outras situações inimagináveis hoje em dia em uma novela. Acha que a TV encaretou?


BETTY - O Brasil encaretou. É tudo muito politicamente correto. O que a mídia valoriza é o que vale, tipo celebridades que vão a todos os lugares, etc e tal, mas ninguém ousa transgredir ou dar uma opinião contrária ao comportamento padrão. ACHO UM SACO.


Em evento recente no CCBB, Regina Duarte declarou que não é mais chamada para atuar na TV com a mesma freqüência de antes e que, provavelmente, nunca mais fará uma protagonista. Você acha que a oferta de bons papéis diminui para os veteranos e por quê?


BETTY - O grande perigo e tentação dos contratos longos é esse: Virar móveis e utensílios de um lugar e se sentir desprestigiada. Faz mal à autoestima. Eu não posso me queixar, pois tenho feito nos últimos anos bons papéis. Então é sorte também, sei lá. Fernanda Montenegro está fazendo um papel maravilhoso.

Você foi uma das celebridades que aderiu ao blog, que acabou servindo pra reunir num só espaço alguns de seus fãs, inclusive os que participam de sua comunidade no Orkut, carinhosamente chamados de “Família Betty”. O que te levou a criar um blog e que tal a experiência de blogueira?


BETTY - Fui convidada logo que começou o Bloglog e aceitei. Nunca me passou pela cabeça, mas fiquei tão feliz quando senti pessoas bacanas, carinhosas, trocando figurinhas comigo que agora não paro mais. Adoro a família Betty e me sinto orgulhosíssima por ter isso. Só acho que meu blog não bomba. Quando escrevi alguns assuntos polêmicos teve mais gente, mas também não estou a fim de escândalo, nem tomar porrada na rua. Então faço um blog light, bem comportado.


Em sua biografia “Rebelde por natureza”, você fala de sua vida com uma sinceridade e uma verdade poucas vezes vista em um livro, admitindo inclusive que cometeu muitos erros no passado e melhorou muito como pessoa. Isso é de uma humildade admirável. Foi o budismo que te trouxe essa serenidade?


BETTY - É um pacote. Uma pessoa que tenta se melhorar, tem que reconhecer seus erros, caso contrário fica velha chata, arrogante e burra. Claro que a filosofia budista, baseada na Causa e Efeito, tem o grande peso e valor.

Ainda explorando o título de sua biografia, quais as dores e delícias de ser “rebelde por natureza”?


BETTY - O preço altíssimo que se paga. Por isso que está todo mundo tão caretinha, arrumadinho e politicamente correto. Em 2010, ninguém mais ousa contestar. A minha rebeldia diz: Quanta hipocrisia!

Você é noveleira? Quais as novelas e personagens favoritos da Betty telespectadora?


BETTY - Sou noveleira e vejo tudo sempre que posso. Agora “Passione”, é minha favorita. Estou apaixonada por essa novela, mas estou gostando de “Ti Ti Ti”. Tem muita gente boa também.

Você recentemente comprou os direitos do musical da Broadway “Applause”. O que pode adiantar sobre o projeto?


BETTY - Ainda não da pra falar de Applause, pois tenho que resolver primeiro quem vai produzir, dirigir e traduzir. Acredito que mais um tempinho já terei uma posição a respeito.

No quadro “Arquivo confidencial” do Domingão do Faustão, seus filhos revelaram, de maneira muito emocionante, seu lado mãezona e você é frequentemente vista passeando com a neta por todos os lugares. Como é a Betty mãe, avó e mulher? O que gosta de fazer quando não está trabalhando?


BETTY - Gosto de ficar em casa, ir à praia, ao cinema, teatro e conversar com os amigos. Como mãe, avó e mulher, dou o meu melhor, mas não sei dizer como sou, pois corro o risco de ficar me elogiando e dizendo que sou bacana feito boba. Às vezes nem to agradando tanto assim, né?

Aliás, o público sente saudades de Alexandra. Ela tem planos de retomar a carreira?


BETTY - Tenho muito cuidado para não responder pelos meus filhos. Mas Alexandra hoje é uma astróloga ótima, adora e estuda com seriedade Astrologia, e acho que ela não gosta muito do meio artístico (que é competitivo, duro, com muita falsidade, lobbys, etc.). A sensibilidade dela nunca aceitou esse tipo de coisa. Talvez uma vocação maior aceitasse. Talento e estudo ela teve, mas, hoje ela está mais feliz com Astrologia. Quem sabe muda? A gente nunca sabe, né?

Querida, quero agradecer muitíssimo por seu carinho, paciência, disponibilidade e generosidade. Você está realizando, não só o sonho deste fã que vos fala, mas de muita gente que acompanha o blog que admira você e o seu trabalho. Agora mais do que nunca, é a MUSA DO BLOG!!! Parabéns, não só pela carreira vitoriosa, mas por ser essa pessoa com um talento enorme, não só na arte, mas também, como você menciona sempre, com um talento pra felicidade. Deixo esse espaço livre pra você falar o que quiser! O que não perguntei que você gostaria de dizer?


BETTY - Beijos muitos de Boa Sorte!


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